8.11.01

De passagem por ela

Beijou o travesseiro, cuja fronha
Ainda tinha o cheiro fraco do suor que ele aspergira
Quando, há duas semanas, se beijaram antes de dormir.

Naquela noite, ela quis que seu quarto
Fosse mais dele do que dela.
Sem retratos que não fossem dele
Sem homens que não fossem ele,
Porque sem ele o quarto não seria dela.
E levava a carne à sua boca gentilmente,
Naquela sensual maternidade
Que aquele órfão de alma não quis adotar.

Ela viu nos seus olhos gratidão,
Um prazer que soava confortante
E uma paixão talvez insuficiente;
Os dois sabiam que ele estava de passagem.

E de novo, aquele quarto era só dela.
De novo, estava só naquele quarto.
De novo, alguém passou por lá
Sem deixar nada além de um quarto
Para ela.

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