10.10.04

Nobre Farsa na Folha de S.Paulo

O suplemento Folhinha publicou este poema infantil inédito da Nobre Farsa no sábado, 9 de outubro. Era para ter avisado a vocês antes, mas o post não vingou aqui no Blogger.

Divido mais essa conquista com vocês. Abraços,
Márvio dos Anjos



Concerto para um marciano


Um dia, um marciano
(que estava em férias na Terra)
quis saber de nós humanos
qual foi o maior avanço
que tivemos no planeta.

Pela estranha maquininha
que lhe traduzia a fala,
conversou com cientistas
que explicaram muita coisa.

Só que nada convencia
o homem verde da nave:
"Sei disso tudo e sei mais",
disse pela maquininha.

Até que alguém teve a idéia
de tocar num velho disco
uma canção sem palavras,
e o ET quis entender
o que era a tal da Música.

Mal um disco terminava,
outro disco vinha atrás,
com flauta, piano, sax,
e essas gentilezas doces
que só o violino faz.

O marciano entendeu,
agradeceu, foi embora.
Jogou a máquina fora
(que não precisava mais).

Mas quem foi lhe dar tchauzinho
pôde ouvi-lo resmungar:
"Que inveja dessa gente!
Eles dizem tanta coisa
sem nem precisar falar..."

(em 28/09/2004)

1.10.04

Breve história do Tempo
A João Paulo Cuenca


Órbita emoldurando o caos, assim
Era o Tempo no princípio.

Caminho que a si mesmo percorria,
Corcel arisco a lacerar os céus
Sem piso algum, tocando a própria sombra,
Capaz de ir até quando voltava,
Como o senhor de um só e contínuo Instante.

Deus viu nele a matéria e lhe extraiu
A costela da qual esculpiu o Homem,
Fazendo-os pelo Instante combater:
Um, arrogante e novo, o quer eterno,
Mas o outro, rei deposto, o quer de volta.

Não haverá vitória, diz a regra
Da disputa.
A humanidade é a erosão do Tempo,
A consumir tudo que mais lhe falta.