19.7.11

Cold, poema da escocesa Carol-Ann Duffy, foi publicado sem tradução na capa da última edição do Prosa & Verso de O Globo, e acabou me provocando. O resultado é este, e o original em inglês vai mais abaixo.

Frio

Era tão fria a bola que nas mãos chorava
neve, e que ao rolar crescia pela neve até
que nela eu me sentasse, olhando para casa,
onde, num quarto frio de janelas cegas
de gelo, meus suspiros no ar se desnudavam.
Frio também no abraço que deu forma ao Homem
de Neve, e em meus dedões que ardiam frios dentro
das botas invernais; mamãe que me gritava
"Sai do frio!", com frias mãos de descascar
batatas que esperaram enquanto me beijava
cada bochecha fria e o meu frio nariz.
Mas nada frio como a noite fevereira
em que, nem jovem nem idosa, ela jazia,
e a testa aos lábios deu-me a tradução de "fria" .

OBS: O poema obrigou-me a empregar doze sílabas em cada verso (medida igualmente usada pela poeta escocesa), e rima no par final de versos. A gente abre mão de muita coisa quando traduz sem "liberdade". É mais uma revelação incompleta de intenções originais, além das escolhas que nos são mais caras. Espero que gostem.

Aqui, o original, com os direitos reservados.


Cold
It felt so cold, the snowball which wept in my hands,
and when I rolled it along in the snow, it grew
till I could sit on it, looking back at the house,
where it was cold when I woke in my room, the windows
blind with ice, my breath undressed itself on the air.
Cold, too, embracing the torso of snow which I lifted up
in my arms to build a snowman, my toes, burning, cold
in my winter boots; my mother’s voice calling me in
from the cold. And her hands were cold from peeling
then dipping potatoes into a bowl, stopping to cup
her daughter’s face, a kiss for both cold cheeks, my cold nose.
But nothing so cold as the February night I opened the door
in the Chapel of Rest where my mother lay, neither young, nor old,
where my lips, returning her kiss to her brow, knew the meaning of cold.


Um comentário:

Rubens Herbst disse...

Meu caro Márvio

Como está? Aqui é o Rubens, jornalista de Joinville. Preciso muito falar com vc. Pode me escrever? rubens.herbst@an.com.br

abração
Rubens