11.8.11


TIVEMOS OU NÃO UM NOVO 174?

O tiro que acertou o tórax da passageira Lisa Mônica Pereira, de 46 anos, durante sequestro de ônibus no Centro do Rio – bem como todos os outros 15 disparos contados na carcaça do coletivo – foi admitido como erro pelo secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e pelo comandante geral da PM, Mário Sérgio Duarte. Lisa permanece em estado grave na UTI de um hospital público.

A pergunta agora é: houve um novo 174? A essa questão, o governador Sérgio Cabral responde: há enormes diferenças. Vejamos.

Em 2000, o ônibus 174 foi uma das mais marcantes tragédias do Rio de Janeiro. O ótimo documentário de José Padilha eternizou o horror perpetrado primeiro por Sandro do Nascimento, um ladrão entupido de drogas que já havia sido um sobrevivente da chacina da Candelária; depois pela imperícia de um soldado do Bope, que usou uma arma de baixa precisão para uma ação em que precisão era tudo; e finalmente, pelos PMs, que num ato justiceiro e, sobretudo, corporativo, deram fim a um Sandro dominado, já dentro de um camburão. Em 2000, a jovem Geisa foi a trágica vítima dessa sequência de erros. Hoje, Lisa é quem sofre com um tiro que parece originado dessa série de equívocos assumida pelo Estado.

Situações que envolvem reféns são dos maiores dramas que policiais podem viver. Lidam com a imprevisibilidade do criminoso que enfrentam, e põem à prova toda a qualidade do treinamento que receberam. Com a transmissão ao vivo pela TV, como aconteceu em ambos os casos, é inevitável que a repercussão de erro se multiplique: há a empatia imediata entre a opinião pública e os reféns. Vê-los indefesos sob a mira de várias armas numa situação corriqueira, como voltar para casa de ônibus, faz com que nós exijamos que tudo dê certo.

Respeito Cabral quando diz que a operação difere demais da de 2000 – a começar pelo governador, que não assumiu o comando da ação, conforme fez Garotinho em 2000. Poderes devem ser delegados a especialistas. Onze foram salvos, e nenhum preso foi justiçado.

Infelizmente, ainda temos uma mulher em estado grave num hospital, devido a um equívoco policial. E há uma decisão de não recolher todas as armas empregadas, o que soa ao pior do corporativismo. Portanto, seria de bom tom admitir que o que ocorreu no ônibus da Viação Jurema ainda guarda, no cerne dos fatos, semelhanças demais com o fatídico 174.

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