21.6.12

Uma reciclagem de reputações





Nasceu um novo partido na última semana. Chama-se Partido Ecológic Nacional, sigla PEN, número de legenda 51. A ideologia é mais ou menos aquela que já se tinha com o pV, tanto que já convidaram Marina Silva a se filiar a eles, tendo em vista as eleições de 2014. Se há diferenças entre os verdes e os ecológicos, creio que apenas o fundador Adilson Barroso poderá explicá-las. 

Muito provavelmente não convencerá ninguém.

Já escrevi aqui certa vez que o Brasil se acostuma a uma política apartidária. Rivais nacionais, PT e PSDB deram mostras nesta semana que são defensores de cargos e trincheiras, e não de um conjunto ideológico coerente.

A disputa a tapa pelo minuto e meio do PP de Paulo Maluf, culminando no patético aperto de mão de Lula, mostra que as ideologias se foram e agora, pelo menos em São Paulo, o que interessa é vitória, a qualquer preço.

Num aperto de mão, o PT do ex-preso político Lula e da ex-presa política Dilma relativizou muita coisa: uma ordem de prisão da Interpol, válida em 181 países-membros, uma condenação de devolução de R$ 716 milhões aos cofres do Estado de São Paulo pelo escândalo da Paulipetro, a criação da violentíssima ala da Polícia de São Paulo conhecida como Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), uma carreira propulsionada pela ditadura militar, que vai desde sua nomeação como prefeito de São Paulo pelo presidente militar Costa e Silva, em 1969, até as denúncias de ocultação de cadáveres e de colaboração com a tortura – cuja maior confissão fica num decreto de cessão de um terreno municipal na Vila Mariana ao Doi-Codi, a poucos dias da Lei da Anistia vigorar, em 1979.

Toda vez que vejo as imagens, consigo notar no semblante de Paulo Maluf uma sensação de vitória, como se quisesse alongar ao máximo sua união táctil com Lula. Vai entrar para o processo de reciclagem de reputações que os petistas já acionaram para Sarney e Collor. Que este deputado ainda seja disputado por PSDB e por PT para fins eleitorais joga por terra qualquer possibilidade de haver um diferencial ideológico entre dois partidos cujas figuras principais na ativa – Lula e Serra – são presos ou exilados políticos.

Antes, sacrificavam-se vidas em nome de ideologias. Hoje, sacrificam-se biografias por alguns minutos de TV.

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