9.8.12

A chave não abre; quebre-se a porta




O que significa a aprovação de cotas de 50% de vagas das universidades federais para oriundos de escolas públicas? Essa é a pergunta que gostaria de fazer ao leitor, enquanto Dilma não sanciona a proposta.

Na sessão do plenário do Senado, que aprovou esmagadoramente as cotas, o senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou que apenas um em cada 10 estudantes do país estuda em escola particular. Ou seja, como argumento para as cotas, temos aí o tremendo fracasso da escola pública do país nas aprovações, o que já é também responsabilidade do partido do ilustre senador.

O que o Senado está nos dizendo é: como o governo não tem condições de proporcionar ensinos fundamental e médio capazes de concorrer com as escolas particulares, a melhor saída para garantir o acesso do aluno estatal à universidade federal é na base do atalho.

Universidades foram concebidas como centros congregantes de inteligência, a fim de produzir mais inteligência. A pesquisa científica, o avanço tecnológico e a interpretação dos rumos da civilização brasileira dependem desse conceito meritocrático de “melhores se reunindo para pensar e contribuir melhor”. Se ela não opera assim é outra história, e aí é o caso de repensar o papel dela, e não o acesso a ela.

Não posso fechar os olhos para o fato de que hoje um diploma universitário é vital para o desempenho de uma carreira, e as federais são uma grife e tanto. Mas o que assusta é que justamente quem mais fala em ir contra as leis do mercado – a chamada “esquerda”, recheada de tantos intelectuais e acadêmicos – prefira fazer justiça social pelo viés mais mercadológico da educação acadêmica: o de que ela tem que preparar – ou melhor, chancelar – para o trabalho.

Impressiona também que essa esquerda, normalmente laica e até antiteísta, aposte tanto num argumento tão assemelhado ao da desprezada “culpa judaico-cristã”: o de que todo oriundo de determinada classe ou cor teria um “pecado original”, que deve ser expiado por meio de gambiarras baseadas em cor e classe.

Paulo Paim ainda afirma que “a rejeição desse projeto significaria não querer que os negros, índios e pardos tenham acesso à universidade”, um argumento tão válido quanto o de um chaveiro ruim que, incapaz de fazer chaves que  abram a fechadura, bota a culpa no “preconceito” da porta e a arromba.

Caso aprovado, o projeto de cotas dá o recado: nas escolas públicas, só somos capazes de ensinar o jeitinho.

4 comentários:

Prof. Léo disse...

Nas últimas semanas fomos assaltados por uma avalanche de textos, tuites e manifestações de diversos tipos sobre as cotas. Vi-me como no olho do furacão, recebendo bordoadas de todo lado e diversas orientações diferentes, e sem tempo para analisar tudo. Nosso ímpeto ao ler certas coisas é se manifestar, dar nossa opinião, rebater argumentos. Mas no calor do debate, geralmente, nosso olhar fica turvado, e corremos o risco de não conseguirmos argumentar de maneira satisfatória, empobrecendo o debate e ficando sem clareza em nossa argumentação. Por isto depois de passado o redemoinho, depois que as coisas começaram a se acalmar, e depois de ter lido vários textos, artigos, notas, tuites sobre o tema, e ter decantado os mesmos, eis-me aqui para dar o meu pitaco nesta história toda.

Leia na íntegra: http://antitelejornal2.blogspot.com.br/2012/08/sobre-nossas-costas.html

.Marcelly disse...

Eu já havia comentado sobre esse assunto contigo no blog. Mas, por mais que se fala e se discuta, por mais que eu leia e opine por todos os lados, eu nunca me sentirei satisfeita.
Sou professora e estou afastada de meu trabalho por depressão. Porque a educação é o que há de mais pobre neste país. Aliás, não sei se em algum lugar do mundo há uma educação perfeita. Não podemos falar em modelos. Contudo, a honestidade não pode ser esquecidas.
Sou uma coitada professora, com capacidades intelectuais limitadas,motivo pelo qual resolvi lecionar. Contudo, humildemente, tenho a minha hipótese para tamanha degradação das questões públicas, a saber, nunca partimos das coisas como elas efetivamente são, mas sim de utopias.
Trata-se a educação, e, evidentemente, todos os seus respectivos problemas, com mais descaso que o motorista do~ônibus trata um passageiro deixando-o a pé.
Eu, sinceramente, estou com a minha capacidade emocional abalada. Uma das coisas que poderiam servir como alívio sera discutir o que é educação com as pessoas que fazem essas cagadas.
Por exemplo, eu gostaria de saber se o grupo que foi a favor de cotas nas universidades sabem o que é uma universidade e de onde ela surgiu. Gostaria de saber porque elas recebem este nome e porque são consideradas pólos de pesquisa de referência.
Não dá para tentar lá ponta do processo tapar o sol com a peneira. Não dá para fingir que o pobre, o mais inculto, será melhor no mercado de trabalho caso possua um diploma. Aliás, a democratização do ensino é uma grande babaquice. Só conseguimos ter um mercado inflacionado, lotadíssimo e todo mundo fodido.
Por mais que se tenha um bom diploma, este não é garantia de sucesso de profissional.
Você é formado em jornalismo. Quantos dos seus colegas estão mal de vida hoje? E frustados?
Sempre conhecemos alguém...
E isso, por quê? Porque todo mundo acha que é preciso de um diploma para ser feliz. Não, a condição de nossa felicidade, ou melhor, de nosso equilíbrio social começaria em tratar as pessoas como fim em si mesmas, não como meio.
O que eu percebo com a questão das cotas é que os contemplados com o acesso facilitado às universidades, nada mais são do que massa de manobra.
Agora, eu desafio o grupo responsável por tal sistema de cotas a entrar em uma sala de aula do Estado e tentar ministrar uma aula. Eles não possuem o menor preparo para uma universidade. Somente entrarão e depois desistirão, porque, afinal, a academia não é assistencialista. É óbvio que os professores irão com tudo em cima dessa galera cotista.
Eu, no ensino médico público, fico envergonhada de ensinar filosofia porque eles chamam minha disciplina de filosofia e não sabem, acredite, que nome próprio começa com letra maiúscula.
Olha, paro por aqui porque este assunto me irrita. Quase meia noite e preciso me concentrar para dormir.
Att

.Marcelly disse...

Meu comentário está mal redigido e confuso. Mas, é muito tarde para revisões. Minhas capacidades cognitivas foram afetadas pelo FRontal.

Thiago Brandao disse...

Sempre fui a favor de cotas nas universidades estaduais mas que elas fossem inversas, que quem estudou em escola particular e pode pagar que pague por uma universidade.O direito ao ensino deve ser universal e não segregado a um pequeno grupo,quando que um filho de um Pedreiro, açougueiro motorista de ônibus, professor do ensino médio qualquer profissão que não Médico, Engenheiro, ou alguns advogados poderão escolher suas carreiras pelo seu potencial, ou pelo seus sonhos? Não é culpa deles se as escolas estaduais e municipais onde ele estudou são Horrorosas se o PSDB por suas estatísticas adoradas criaram a tal da progressão continuada, eles só querem poder escolher algo diferente pra fazer do que trabalhar nas casas Bahia.
O Fato é que todas as vezes que há qualquer intenção de se compartilhar conhecimento, cultura, e os poderes com os mais pobres do país criam-se alaridos pelos quatro cantos, afinal quem vai continuar limpando as botas se todos usarem botas, deveria existir o minimo de condições para uma competição, negando o acesso as universidades e negando ensino de qualidade a população, a missão de deixar de ser emergente para finalmente emergir em um cenário mundial se torna cada vez mais utópico. Sem Engenheiros cientistas, médicos, professores não há avanço nem ordem e muito menos Progresso !