18.10.12

Não há perguntas incorretas, Serra






A liberdade de expressão é um dos mais belos fundamentos do Ocidente: sustenta que a democracia não se confina ao ato do voto. Permite que se confrontem, a qualquer hora, as opiniões que muitos adorariam que fossem absolutas, seja por discordar delas, seja por não estar convencido delas. Por isso, políticos têm como dever de ofício responder à imprensa, cujo papel é questionar – em todos os sentidos – em nome do interesse público.

Não por acaso foi bem-vinda a Lei de Acesso à Informação, que revelou os escabrosos salários acima dos tetos permitidos. Ela combate desde a má-fé dos governantes à má-vontade dos servidores protegidos pela estabilidade, porque garante que os Poderes sejam questionados.

Assim, não existem perguntas incorretas, e sim respostas mal dadas, negadas ou inconvenientes para quem as dá. Falha com a democracia quem vê numa questão um inimigo.

O candidato José Serra (PSDB), pelo visto, não conseguiu compreender esse fundamento da democracia mesmo após tantas décadas de vida pública. Ou quis abandoná-lo, em nome do que considera ser mais apropriado para o momento. Em suma, não foi democrata.

Ao não responder na rádio CBN à pergunta sobre o kit anti-homofobia do Ministério da Educação de Fernando Haddad (PT) e ainda afirmar conhecer as “preferências políticas” do jornalista Kennedy Alencar, Serra usou a condenável prática do ad hominem – atacou o mensageiro em vez de ater-se à mensagem. Tanto que, diante do apresentador Carlos Tramontina, do SPTV da Globo, o tucano não teve problemas em responder horas depois à mesma pergunta, que já não era mais “petista”.

O kit não é da agenda municipal, mas de Silas Malafaia, líder evangélico que se aliou a Serra, e é lamentável que tanto tempo do debate se tenha perdido com tal questão. Porém, se ela vem à tona, é problema de quem se aliou a Malafaia. Se se tornou de interesse público, é obrigação de Serra responder à sociedade que lhe pergunta na figura do repórter. Se seu governo produziu um kit antipreconceito, ele tem, sim, que esclarecer democraticamente se há semelhanças em relação ao material do adversário – sem escolher a quem responderá.

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